Há tempos passados, uma pessoa jovem insatisfeita com uma resposta minha às suas irreverências, chamou-me de velha e denominou-me Vovó Eva, com aquele tom de zombaria e de desrespeito que bem caracterizam certos jovens criados sem limites e sem as noções básicas de boa educação. Não fiquei chocada nem indignada, porque se há uma coisa com a qual eu convivo muito bem é com a minha idade e com as mudanças no meu físico, operadas pela passagem do tempo.
Não nego a idade, não perdi a vaidade, amo a vida e não saberia viver como vive a maioria das pessoas da minha faixa etária. *Ontem, calhou de chegar-me uma mensagem pps que me trazia um texto, de autor desconhecido, com o qual me identifiquei profundamente, como se fosse eu mesma quem o tivesse escrito, falando de mim mesma.
Como sei que algumas pessoas frequentadora desse o blog estão se aproximando da terceira idade, ou têm suas mãe já idosas, resolvi postá-lo para que reflitamos sobre o que é mesmo isto que chamam de velhice, o que é ser uma velha, como se sentem as pessoas que se aproximam da idade avançada, se é possível não envelhecer interiormente, avançando nos anos com a energia, a disposição para viver em plenitude, fruindo os prazeres e as alegrias que a vida proporciona.
Vejamos o texto: “Um dia desses uma jovem me perguntou como eu me sentia sobre ser velha. Levei um susto, porque eu não me vejo como uma velha. Ao notar minha reação, a garota ficou embaraçada, mas eu expliquei que era uma pergunta interessante, que pensaria a respeito e depois voltaria a falar com ela. Pensei e concluí: a velhice é um presente.
Eu sou agora, provavelmente, pela primeira vez na vida, a pessoa que sempre quis ser. Oh, não meu corpo! Fico incrédula muitas vezes ao me examinar, ver as rugas, a flacidez da pele, os pneus rodeando o meu abdome, através das grossas lentes dos meus óculos, o traseiro rotundo e os seios já caídos. E constantemente examino essa pessoa velha que vive em meu espelho (e que se parece demais com minha mãe), mas não sofro muito com isso.
Não trocaria meus amigos surpreendentes, minha vida maravilhosa, e o carinho de minha família por menos cabelo branco, uma barriga mais lisa ou um bumbum mais durinho. Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais condescendente comigo mesma, menos crítica das minhas atitudes. Tornei-me amiga de mim mesma. Não fico me censurando se quero comer um bolinho-de-chuva a mais, ou se tenho preguiça de arrumar minha cama, ou se compro um anãozinho de cimento que não necessito, mas que ficou tão lindo no meu jardim.
Conquistei o direito de matar minhas vontades, de ser bagunceira, de ser extravagante. Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento. Quem vai me censurar se resolvo ficar lendo ou jogar paciência no computador até às 4 da manhã e depois só acordar ao meio-dia? Dançarei ao som daqueles sucessos maravilhosos das décadas de 50, 60, 70 e se, de repente, chorar lembrando de alguma paixão daquela época, posso chorar mesmo! Andarei pela praia em um maiô excessivamente esticado sobre um corpo decadente, e mergulharei nas ondas e darei pulinhos se quiser, apesar dos olhares penalizados dos outros.
Eles, também, se conseguirem, envelhecerão. Sei que ando esquecendo muita coisa, o que é bom para se poder perdoar. Mas, pensando bem, há muitos fatos na vida que merecem ser esquecidos. E das coisas importantes, eu me recordo freqüentemente. Certo, ao longo dos anos meu coração sofreu muito. Como não sofrer se você perde um grande amor, ou quando uma criança sofre, ou quando um animal de estimação é atropelado por um carro? Mas corações partidos são os que nos dão a força, a compreensão e nos ensinam a compaixão.
Um coração que nunca sofreu é imaculado e estéril e nunca conhecerá a alegria de ser forte, apesar de imperfeito. *Sou abençoada por ter vivido o suficiente para ver meu cabelo embranquecer e ainda querer tingi-los ao meu bel prazer, e por ter os risos da juventude e da maturidade gravados para sempre em sulcos profundos em meu rosto. Muitos nunca riram, muitos morreram antes que seus cabelos pudessem ficar prateados.
Conforme envelhecemos, fica mais fácil sermos positivos e ligarmos menos para o que os outros pensam. Eu não me questiono mais. Conquistei o direito de estar errada e não ter que dar explicações.
Assim, respondendo à pergunta daquela jovem graciosa, posso afirmar: “Eu gosto de ser velha”. Libertei-me!
Gosto da pessoa que me tornei. Não vou viver para sempre, mas enquanto estiver por aqui, não desperdiçarei meu tempo lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupando com o que virá. E comerei sobremesa todos os dias e repetirei, se assim me aprouver…
E penso que nunca me sentirei só. Sou receptiva e carinhosa, e se amizades antigas teimam em partir antes de mim, outras novas, assim como você, vêm a mim buscar o que terei sempre para dar enquanto viver: experiência e muito amor.
Pode ser que para muitas pessoas a velhice seja sinônima de decadência física e mental, seja a fase da anulação do indivíduo, seja o marco para a desistência de fazer parte integrante e atuante na dinâmica da vida, seja sinônimo de inutilidade ou que represente a interdição do sonho e dos desejos, a abdicação da dignidade e da auto estima de quem mesmo estando vivo, torna-se o espectro de si mesmo.
Para mim, a velhice é exatamente como a encara a jovem velhinha do texto: uma festa, uma celebração da vida e um ato de agradecimento a Deus por ter conseguido chegar até onde já cheguei, tão bem e tão saudável, varando as décadas, sem deixar jamais que a jovem que em mim existe se vá embora.