10 de dezembro de 2012

O Amor é Brega






O
amor é lindo. É. Mas é brega. Se não é brega é porque é pouco. O que
aconteceu com aqueles digníssimos amores do século passado? O Vermelho e
o Negro do Stendhal - aquilo sim era um amor chique, estóico, imenso
porém distinto. Agora não, qualquer coisinha a gente já revela pro mundo
e sem pudores vai comparando com o pôr do sol, a pureza da criança, o
infinito dilacerante... Se as coisas vão mal e você é pessoa pública,
sai correndo em direção a uma capa de revista pra ficar deprimidinho
ali. Ali é o lugar certo pra lágrimas, arrependimentos e aquela troca de
insultos de fazer corar uma estátua.

Tudo meio baixo. Tudo muito
brega. Eu mesma às voltas com certa nostalgia amorosa, andei há tempos,
escrevendo uns poemas... Um deles resolvi mandar pro Rei, ele mesmo o
Robertão. Achei que o Rei ia entender a dimensão, digamos, do meu
momento e não iria julgar mal aquele derramar de emoções - um tanto
eróticas, devo admitir. Como se não bastasse o atrevimento, achava que o
"meu momento" podia virar música na voz do Rei. O coração balançado
estava me afetando a cabeça e eu não percebia.

Não sei se o
negocio chegou a ele, só sei que encontrei-o depois, casualmente - como
sempre foi muito simpático - mas quanto a "meu momento", nada. Fiquei na
minha. Resolvi então mandar pro Zezé di Camargo, meu sertanejo
predileto junto com Chitão e Xororó. Havia apresentado há tempos um show
do Zezé e Luciano e ficara (será o tempo de verbo ou o contexto inteiro
que está a mais?) impressionadíssima com aquelas milhares de mulheres
se rasgando, numa espécie de êxtase espírito-sexual diante dos dois
rapazes que cantavam muito afinados suas romanticíssimas composições.

Não
sei porque eu teimava em não ficar, como seria de meu feitio, quieta
com minhas mazelas, mas me deu uma vontade assim meio baixa, porém
irresistível, de ver meus derramares escancarados numa canção molenga
pelo Brasil afora. Deve ser efeito desses tempos meio bregas, tal
indiscrição erótico-amorosa. Mas deixemos a análise psico-social para
situações de maior densidade. O negócio é o seguinte... Bem agora vai
gente. O poema. É erótico-brega-amoroso, já avisei. Depois eu não vou
falar mais nada hein, vou acabar com isso. Bom, então vamos... é o
seguinte:




Amor de Cama



Quando você faz amor comigo, meu corpo todo,

cada poro, cada pelo, cada órgão lá de dentro,

sorve aquilo de tal jeito, que não sei como é que o peito,

o coração ali desfeito, tudo enche estufa cresce

e se esvazia ao mesmo tempo.

Num instante vou morrer. No outro me acho, plena, de você.

E agora que você não está, passo a língua pela boca

passo a língua pela língua,

inspiro o ar da sua garganta pra dentro do meu pulmão.

Com você entre minhas pernas,

busco resquícios do amor que você me fez.

Não acho. E sinto

E sinto a falta que você me faz.



MAITÊ 
PROENÇA



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