19 de março de 2010

Ó beleza! Onde está tua verdade?



Escondida em conceitos de superficialidade, escondida em complexos de inferioridade, escondida em contextos de intelectualidade, escondida em buscas pela espiritualidade, escondida em aparentes estados de auto-suficiência, conformidade e integralidade. A beleza que nunca é enxergada em sua essência, muitas vezes é encontrada na visão de mundo de cada um de acordo com o que é conveniente ou desejável apenas. Padrões e estereótipos são produzidos aos quilos diariamente aprisionando o ser humano, formatando seus níveis de desejo e aniquilando veementemente todo seu potencial de entrega em uma relação a dois que deveria ser vivida de forma saudável e desprendida de conceitos.


Mulheres anorgásmicas por não conseguirem desligar suas mentes da imagem do corpo perfeito e capaz de seduzir, conquistar e prender o amor de um homem. Frígidas em primeiro plano de tanto cultuar o próprio corpo em detrimento do envolvimento e do prazer que uma relação gostosa pode proporcionar. Homens impotentes perante a imagem da Deusa em estatueta que inibe e constrange na medida do que é considerado intocável e pela inércia exercida em forma de inexperiência e valores absolutamente confusos. Impotentes também por sua autoestima em baixíssimo nível por, muitas vezes, relacionar sua virilidade ao padrão de homem moderno que, além de tudo, tem que vir em forma de galã de telenovelas.


Homens e mulheres cheios de saúde que poderiam usufruir em plenitude dos prazeres da carne somados a integralidade da alma, fazendo fluir pelos seus corpos as mais potentes energias, desperdiçando o que de verdade o sexo tem para oferecer.


Este é mais um mal da sociedade pós-moderna. Tanto se fala de sexo, tanto se cobra das posturas sexuais, tanto se conhece tanto se faz e nada contenta e nem completa. O desencontro é total. Faz-se sexo por sexo. Faz-se sexo porque é permitido fazer sexo, contudo, o descontentamento é geral.


O que ocorre frequentemente é que os parâmetros de escolha e seleção dos parceiros estão muito confusos. Diante de tanta imposição do mercado de consumo, as pessoas estão cada dia mais procurando parceiros cada dia mais difíceis de serem encontrados e, quando encontrados em sua forma física desejável, já estão com as cabeças detonadas de tanto buscar a tal perfeição. É complexo, mas é explicável.


Tem o caso de uma mulher que ficou bem aborrecida porque tinha encontrado um namorado interessante e parecia que tudo ia dar certo, a química bateu, tinham boa afinidade, eram maduros e, de repente, ele desistiu. Argumentou dizendo que se achava feio e velho para ela que já nem era tão nova assim. Tinham cinco anos de diferença. Ele desistiu porque não aguentou a pressão de vê-la mais bonita e com aparência mais jovem. Ela era mesmo uma jovem senhora muito bonita e não aparentava a idade que tinha. Temeu pelo futuro, temeu sentir-se inseguro, temeu ser rejeitado por ela, temeu sentir ciúmes e simplesmente abriu mão de tudo que estavam sentindo, inclusive o enorme tesão. Ele era bem sucedido profissionalmente e pelo que ela me contou, tinha uma boa aparência. Era sensual, viril e muito divertido. Ela ficou muito entristecida e inconformada, mas acreditando nos argumentos dele respeitou sua decisão.


Outro caso interessante, foi o de uma outra mulher que era feliz com o próprio corpo mesmo sendo bem cheinha. Era sexy, bonita, cheirosa e tinha pleno domínio e conhecimento do que seria uma boa relação afetiva e sexual. Sabia amar sem restrições. Era sensual e tinha uma libido a toda prova. Sua dificuldade era encontrar um homem que não estivesse selecionando "aviões" para suas relações. Muito autêntica e muito extrovertida, teve a coragem de procurar saber o porquê de tanta rejeição, e alguém não menos corajoso, mas a meu ver, bem pretensioso disse a ela que estava fora dos padrões. Linda, 35 anos, independente economicamente e muito bem cuidada. Excluída do direito de amar e ser amada. Não fiquem triste, isto foi há algum tempo e ela hoje já tem alguém muito especial.


Moças lindas com corpos e rostos perfeitos, que não conseguem se entregar a um amor, porque precisam a todo custo, se auto afirmarem e não basta que uma pessoa lhes diga o quanto são belas. Precisam de volume, de quantidade, precisam "ficar" sempre com pessoas diferentes para ouvirem o que lhes satisfaçam. Estão sem referencial de vida. Não trazem nada além da superficialidade em que seus corpos se encontram.


Tenho vários outros casos para contar onde pessoas sofrem por estarem fora dos padrões de beleza estabelecidos pela mídia. Pessoas com muito a oferecer, para somarem em tudo na vida de alguém.


O que as pessoas precisam entender definitivamente é que no sexo, vale muito mais o que se sente. É muito possível se realizar sexualmente com alguém que não se enquadre nestes tais padrões de beleza atuais. É certo que o fator atração, conta muito, mas acontece de nos sentirmos atraídos por alguém e não atendermos ao nosso desejo simplesmente por uma convenção. Às vezes, é nos braços de alguém assim que vamos ter as melhores sensações, que vamos vibrar mais, que vamos nos entregar sem amarras, que vamos deixar de buscar sempre por algo que nos complete que vamos sossegar nossos anseios.


Nesse afã de filtrar e selecionar o que é melhor para nós, baseados no que os outros ou no que o mundo estabelece, nos perdemos como pessoas integrais e perdemos oportunidades maravilhosas de sentir prazer de verdade, daquele chega até a alma. Por estarmos sempre preocupados em manter as aparências nos descuidamos do que é importante para nós.


Não quero dizer aqui, que não devemos nos cuidar, é claro que devemos, mas os exageros, como sempre podem provocar efeitos indesejáveis, como por exemplo, relações sexuais vazias, sem envolvimento sem a dose certa de excitação e com um prazer muito mais a nível egóico e incapaz de nos satisfazer.


É importante que compreendamos que somos um todo e que precisamos desse todo para chegarmos perto do que se chama felicidade.


A frase utilizada como titulo desse artigo é de William Shakespeare


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Autora: Jussara Hadadd é Filósofa

e Terapeuta Sexual Feminina

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