Um dia perguntei à minha mãe sobre felicidade e ela, sábia - na sua santa ignorância das letras e modernismos-, disse que a felicidade era vizinha dos quarenta, sessenta, oitenta anos de idade e que eu não tivesse pressa. Antes de tê-la sempre comigo precisava pagar um preço, porque nada se recebe de graça na vida, a não ser a vida. É claro que enfeito, às vezes, a forma do que ela disse, mas na essência era o que ela queria dizer, porque já era idosa quando lhe perguntei.
Fiquei, então, prestando atenção quanto custava ser feliz. Às vezes era feliz, mas não sabia como diz a letra da música.
Meu estilingue era a felicidade. A bicicleta velha que ganhei quando criança, também era felicidade. O sorriso da primeira filha, do primeiro neto, do primeiro bisneto e por aí a fora com o sorriso de todos os outros..
Mãe, como você tinha razão. Sei que, hoje, você tem o maior tempo do mundo prá ler o que escrevo, mas eu não!
Então, serei rápido, ao fazer um pequeno registro, neste mês de maio, talvez o único mês em que os filhos se lembram da Mãe, com um carinho maior.
Descobri Mãe, que quando a idade chega é que a felicidade se torna vizinha da gente.
Quando essa independência chega, como é bom: você paga o que come e o que veste, o ingresso do salão onde vai dançar com sua grande companheira de todas as horas fáceis ou difíceis, rever amigos ou fazer novos amigos idosos, paga a mensalidade do seu grupo de convivência, compra a sua bengala ou o seu boné.
Não tenta o suicídio, já se cansou de fumar porcarias, do álcool, trocou a mochila por um note book, assiste o canal da Playboy não mais escondidinho, enfim, somos autores do dia de hoje.
Somos felizes, enfim!
Não somos velhos. Somos idosos. Diferença? Claro que existe! Na folhinha do velho só tem ONTENS. Na minha folhinha só tem um pouquinho do HOJE e muito de AMANHÃ.
O velho tem uma coleção de saudades... Eu tenho planos.
Viu só, Mãe, como lembrei do que você disse?Tem outras coisas, mas já pertencem ao passado, porque eram ensinamentos que possibilitaram eu chegar até aqui e me lembrar de você, neste sublime mês de maio.
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Donato Ramos
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